Andrássy , 60 útca |
Fiquem felizes que pelo menos existe uma imagem para mostrar.
Para chegar pegue a linha M1 do metrô e salte na estação Vorösmarty Street (segundo o Google Maps). Tenho a lembrança de ter saltado na estação Bajza e ter andado cerca de 2 mins a pé até a entrada do museu.
A idéia do Museu é a pior possível. Para alguns a melhor. Uma mulher teve a idéia de escancarar para o mundo todas as memórias e realidades do nazismo e do socialismo no planeta como forma de alertar para quem quer que seja que isto não pode ocorrer nunca mais.
Então ela vendeu sua idéia ao Governo que topou de cara. E os húngaros foram os primeiros a terem coragem de revirar um passado mórbido repleto de crueldade e genocídio. Os demais países diretamente envolvidos até hoje em sua maioria não têm coragem de se pronunciar para falar qualquer coisas a não ser um enorme pedido de desculpas e uma dor profunda que só ao lidar de perto é possível talvez chegar perto de alguma compreensão.
Para aumentar o tamanho da mensagem , o museu na verdade é a sede antiga do que seria um quartel general da KGB ou algo equivalente. A polícia húngara de tortura ficava exatamente no prédio que talvez um dia você pense em visitar.
Para aumentar o tamanho da mensagem , o museu na verdade é a sede antiga do que seria um quartel general da KGB ou algo equivalente. A polícia húngara de tortura ficava exatamente no prédio que talvez um dia você pense em visitar.
Enfim...Seja...bem-vindo à casa do Terror!
Segue meu relato na época e penso que não é preciso acrescentar mais nada a ele.
De cara eles fazem uma ambientação que nem aqueles museus americanos.
Não tem aonde arrumar defeito. A entrada tem um memorial com uma parede
meio preta e meio cinza com uma faixa caída no chão com as cores da
Hungria dentro de uma espécie de coroa de espinhos como a de Cristo. E
já toca uma música de muito impacto e tensão. Tem uma menção na faixa
escrita" just Peter..." o resto tava em húngaro.
Aí virando a esquerda tem a entrada. Vc paga 2000 Huf para entrar ( Cerca de 6.67 euros). A mulher perguntou qual era o meu país e na seqüência ela me perguntou se eu tinha uma carteira de estudante. Apresentou o modelo certinho! Em lugar nenhum do mundo isso acontece. Ela disse tmb que o museu iria fechar em 1 hora e 5 mins. Mas falei que tudo bem. De lá você é direcionado para o guarda-volumes. Não pode levar nada. Talvez até deixem levar papel e lápis. Mas tá proibido celular, câmera, comida, bebida etc... O estranho é que a mulher do guarda-volume tava com uma luva como se não quisesse deixar impressões digitais.
A partir daí é só tragédia.
Ao entrar você se depara com um tanque real exposto. O negócio é monstruoso.
Depois sobe para o segundo andar. Lá tem uma serie sem fim de vídeos reais feitos na época que estão intactos e eles colocaram para exibir. Tem muito material em húngaro e em menor grau em russo. E muito pouca coisa traduzida para o inglês. Mas acho que nem precisa.
Tem 500 uniformes do exército húngaro, tem até um vídeo mostrando como eles se vestiam.
E aí ao fundo tem uma parede que causa muito impacto pra mim em particular. O momento que a primeira ponte aqui da Hungria afundou depois do ataque nazista. Tá lá bem ampliada. Ocupa uma parede inteira. É impressionante. (Foi o momento em que meu bisavô morreu bombardeado pelos nazistas). Fiquei sem acreditar. Penso que a imagem reflete o sentimento de todos os húngaros quando passaram por isso. Choca e dói na alma.
Do nazismo eles tem muitos filmes e muitos relatos. Eles deixaram várias televisões com os vídeos de depoimentos de quem sobreviveu. Mas nitidamente é um depoimento da década de 40 ou 50. Também tem a mostra os telefones pretos húngaros usados na época, as máquinas de escrever que passavam mensagem em código morse, fones de ouvido que você pode pegar para ouvir mais depoimentos e até um carro usado por algum governador da época. Um carro preto gigantesco. Também tem filmagem das pessoas fazendo trabalho esçravo, de campos de concentração e das pessoas trabalhando pelas ruas daqui. Tem vídeo de quando o nazismo assume o poder, e de um cara que foi abraçar Hittler mas, foi impedido pelos soldados.
Aos poucos vai misturando o nazismo com o socialismo. E tem 500 milhões de depoimentos das atrocidades que eles faziam. De coisas mais leves até coisas bem pesadas. Tem as armas que eles usavam, remontaram o gabinete de 2 comunistas lá dentro, tem livros com anotações diversas, uma biblioteca de algum governante húngaro com uns 40 livros de Stalin e 30 de Marx entre outros.
Ah sim! Tem um vídeo do exato momento que o governante húngaro passa o poder para o governo socialista.
A coisa parece ficar melhor quando entro numa área dedicada a propaganda socialista e parece que vai tudo ficar mais light. Só que piora muito!
Depois da sala de propaganda tem uma sala dos padres. Aí tem o vídeo de um cardeal q assumiu a Hungria dizendo que não queria fazer mal a ninguém e nem ter distinção de classe social porque a familia dele também vinha da classe trabalhadora húngara. Num determinado momento a guarda ali da sala manda a gente sair e entrar num elevador. Eu achei que era pq tava fechando. Engano meu.
Esse elevador deve funcionar a 2 km/h e na hora q ele se fecha abre um depoimento de um velhinho relatando c todos os detalhes possíveis como era o procedimento de tortura até o enforcamento de um preso. Isso vai angustiando profundamente em especial pq quando você se dá conta o elevador está descendo os corredores da prisão húngara aonde aconteceram os relatos dele. Você começa a identificar que lugar é o que e a única opção é descer.
Quando finalmente pára a gente está dentro da prisão. E eles não reformaram a prisão. Deixaram do jeito que foi encontrada. Lá tem uma sala com instrumentos de tortura, câmara de gás, prisões diversas com a foto de quem ficou preso em cada cela, sala de enforcamento com a corda e o tronco ali ainda expostos, sala de tortura para arrancar depoimento com detector de mentira e uma cela mil vezes pior que as outras em que só era possível colocar o corpo de pé pq nem se mexer dava. Não tem como não ficar mal. Eu vi pessoas chorando, pessoas se afastando pra ir embora e muitas pessoas com a cara péssima.
Pra piorar, um dos corredores da saída é um corredor enorme com a foto das vitimas, quando nasceu e se morreu, num enorme paredão lá. Na próxima sala tem uma espécie de oratório com milhões de velas acessas e por fim uma sala com o levante húngaro da revolução e da resistência. Tem até uma bandeira da Hungria rasgada no meio. Eu imagino que era pra tirar a estrela comunista do meio.
Depois disso acaba. E só tem um Café e um livro pra assinar. Eu peguei minhas coisas e sai de lá mas assinei o livro. Acho que mais fiel e verídico impossível. Mas foi um enorme alivio quando sai do museu e pude ver a luz do dia ainda, ufa! Eu tava me sentindo mal já. E não gostei de não ter a opção de sair daquele elevador. Era algo que eu realmente nunca teria feito. Ainda mais com o cara relatando todo processo de tortura e morte das pessoas com a maior quantidade possível de detalhes.
O que eu consegui levar de lá foram diversos folhetos explicativos em húngaro sobre etapas diferentes de todo processo de terror e também uma folha azul que eu acho que ficava na mesa das telefonistas ou de visitantes dos presos. 90% do museu ta em húngaro oque torna muito difícil entender o que de fato era. Mas era a única coisa que podia levar.
De qualquer modo mesmo tendo ficado só uns 50 mins por lá já foi o bastante. Ainda bem que tudo isso acabou.
Ah sim! Não sei se foi exatamente no museu mas algumas coisas em húngaro começaram a ficar mais fáceis para eu ler. Pelo menos algumas palavras. Pela primeira vez não olhei sem entender nada.
Aí virando a esquerda tem a entrada. Vc paga 2000 Huf para entrar ( Cerca de 6.67 euros). A mulher perguntou qual era o meu país e na seqüência ela me perguntou se eu tinha uma carteira de estudante. Apresentou o modelo certinho! Em lugar nenhum do mundo isso acontece. Ela disse tmb que o museu iria fechar em 1 hora e 5 mins. Mas falei que tudo bem. De lá você é direcionado para o guarda-volumes. Não pode levar nada. Talvez até deixem levar papel e lápis. Mas tá proibido celular, câmera, comida, bebida etc... O estranho é que a mulher do guarda-volume tava com uma luva como se não quisesse deixar impressões digitais.
A partir daí é só tragédia.
Ao entrar você se depara com um tanque real exposto. O negócio é monstruoso.
Depois sobe para o segundo andar. Lá tem uma serie sem fim de vídeos reais feitos na época que estão intactos e eles colocaram para exibir. Tem muito material em húngaro e em menor grau em russo. E muito pouca coisa traduzida para o inglês. Mas acho que nem precisa.
Tem 500 uniformes do exército húngaro, tem até um vídeo mostrando como eles se vestiam.
E aí ao fundo tem uma parede que causa muito impacto pra mim em particular. O momento que a primeira ponte aqui da Hungria afundou depois do ataque nazista. Tá lá bem ampliada. Ocupa uma parede inteira. É impressionante. (Foi o momento em que meu bisavô morreu bombardeado pelos nazistas). Fiquei sem acreditar. Penso que a imagem reflete o sentimento de todos os húngaros quando passaram por isso. Choca e dói na alma.
Do nazismo eles tem muitos filmes e muitos relatos. Eles deixaram várias televisões com os vídeos de depoimentos de quem sobreviveu. Mas nitidamente é um depoimento da década de 40 ou 50. Também tem a mostra os telefones pretos húngaros usados na época, as máquinas de escrever que passavam mensagem em código morse, fones de ouvido que você pode pegar para ouvir mais depoimentos e até um carro usado por algum governador da época. Um carro preto gigantesco. Também tem filmagem das pessoas fazendo trabalho esçravo, de campos de concentração e das pessoas trabalhando pelas ruas daqui. Tem vídeo de quando o nazismo assume o poder, e de um cara que foi abraçar Hittler mas, foi impedido pelos soldados.
Aos poucos vai misturando o nazismo com o socialismo. E tem 500 milhões de depoimentos das atrocidades que eles faziam. De coisas mais leves até coisas bem pesadas. Tem as armas que eles usavam, remontaram o gabinete de 2 comunistas lá dentro, tem livros com anotações diversas, uma biblioteca de algum governante húngaro com uns 40 livros de Stalin e 30 de Marx entre outros.
Ah sim! Tem um vídeo do exato momento que o governante húngaro passa o poder para o governo socialista.
A coisa parece ficar melhor quando entro numa área dedicada a propaganda socialista e parece que vai tudo ficar mais light. Só que piora muito!
Depois da sala de propaganda tem uma sala dos padres. Aí tem o vídeo de um cardeal q assumiu a Hungria dizendo que não queria fazer mal a ninguém e nem ter distinção de classe social porque a familia dele também vinha da classe trabalhadora húngara. Num determinado momento a guarda ali da sala manda a gente sair e entrar num elevador. Eu achei que era pq tava fechando. Engano meu.
Esse elevador deve funcionar a 2 km/h e na hora q ele se fecha abre um depoimento de um velhinho relatando c todos os detalhes possíveis como era o procedimento de tortura até o enforcamento de um preso. Isso vai angustiando profundamente em especial pq quando você se dá conta o elevador está descendo os corredores da prisão húngara aonde aconteceram os relatos dele. Você começa a identificar que lugar é o que e a única opção é descer.
Quando finalmente pára a gente está dentro da prisão. E eles não reformaram a prisão. Deixaram do jeito que foi encontrada. Lá tem uma sala com instrumentos de tortura, câmara de gás, prisões diversas com a foto de quem ficou preso em cada cela, sala de enforcamento com a corda e o tronco ali ainda expostos, sala de tortura para arrancar depoimento com detector de mentira e uma cela mil vezes pior que as outras em que só era possível colocar o corpo de pé pq nem se mexer dava. Não tem como não ficar mal. Eu vi pessoas chorando, pessoas se afastando pra ir embora e muitas pessoas com a cara péssima.
Pra piorar, um dos corredores da saída é um corredor enorme com a foto das vitimas, quando nasceu e se morreu, num enorme paredão lá. Na próxima sala tem uma espécie de oratório com milhões de velas acessas e por fim uma sala com o levante húngaro da revolução e da resistência. Tem até uma bandeira da Hungria rasgada no meio. Eu imagino que era pra tirar a estrela comunista do meio.
Depois disso acaba. E só tem um Café e um livro pra assinar. Eu peguei minhas coisas e sai de lá mas assinei o livro. Acho que mais fiel e verídico impossível. Mas foi um enorme alivio quando sai do museu e pude ver a luz do dia ainda, ufa! Eu tava me sentindo mal já. E não gostei de não ter a opção de sair daquele elevador. Era algo que eu realmente nunca teria feito. Ainda mais com o cara relatando todo processo de tortura e morte das pessoas com a maior quantidade possível de detalhes.
O que eu consegui levar de lá foram diversos folhetos explicativos em húngaro sobre etapas diferentes de todo processo de terror e também uma folha azul que eu acho que ficava na mesa das telefonistas ou de visitantes dos presos. 90% do museu ta em húngaro oque torna muito difícil entender o que de fato era. Mas era a única coisa que podia levar.
De qualquer modo mesmo tendo ficado só uns 50 mins por lá já foi o bastante. Ainda bem que tudo isso acabou.
Ah sim! Não sei se foi exatamente no museu mas algumas coisas em húngaro começaram a ficar mais fáceis para eu ler. Pelo menos algumas palavras. Pela primeira vez não olhei sem entender nada.
Alguns dos relatos
reais não editados da Casa do Terror:
Mulher : Nós tínhamos que jogar cartas com os oficiais até eles se encherem de nós. Se nos colocássemos contra, eles jogavam pratos na nossa cara.
Homem da "resistência": Eu falei pra eles que eles nunca conseguiriam me enforcar. Olha o tamanho do meu pescoço e olha o tamanho daquela corda. Isso aqui não passa por mim não.
Mulher : Nós tínhamos que jogar cartas com os oficiais até eles se encherem de nós. Se nos colocássemos contra, eles jogavam pratos na nossa cara.
Homem da "resistência": Eu falei pra eles que eles nunca conseguiriam me enforcar. Olha o tamanho do meu pescoço e olha o tamanho daquela corda. Isso aqui não passa por mim não.
(levaram ele pra uma prisão longe de Budapeste) Tempos depois vieram me
fazer uma proposta democrática. Sugeriram que jamais me matariam e me libertariam em troca d'eu sair às ruas inflando o povo húngaro para abraçar o
socialismo. Mas é claro que eu topei! Quem não toparia!? Mas a minha palavra
era de resistência, eu tinha certeza que sairíamos dessa para melhor. Se eu não
acreeditasse, o que deveria fazer então?
Homem: " E sabendo que iríamos morrer imploramos por um padre para rezar como forma de alento a alma e encontrar salvação. De fato, trouxeram um padre. Mas ele se recusou a orar conosco por que nossas crenças eram diferentes da dele..."
Cardeal Húngaro que assumiu o poder na Igreja de Santo Estevan durante o socialismo: " Eu não sou contra o povo húngaro. Eu não quero incentivar o extermínio de classes. Assim como vocês eu vim da classe trabalhadora. Quero que entendam que trago uma mensagem de luz e pretendo abraçar a todos sem distinção"
E existem mais de 500 depoimentos reais que foram gravados ao vivo e sem edição entre as décadas de 40 e 90.
Homem: " E sabendo que iríamos morrer imploramos por um padre para rezar como forma de alento a alma e encontrar salvação. De fato, trouxeram um padre. Mas ele se recusou a orar conosco por que nossas crenças eram diferentes da dele..."
Cardeal Húngaro que assumiu o poder na Igreja de Santo Estevan durante o socialismo: " Eu não sou contra o povo húngaro. Eu não quero incentivar o extermínio de classes. Assim como vocês eu vim da classe trabalhadora. Quero que entendam que trago uma mensagem de luz e pretendo abraçar a todos sem distinção"
E existem mais de 500 depoimentos reais que foram gravados ao vivo e sem edição entre as décadas de 40 e 90.
"No socialismo o
trabalho era motivo de orgulho , de bravura, de plenitude e realização."
Frase cravada na parede da Casa do Terror.
As fotos na seqüência eram nitidamente de trabalho escravo adulto e infantil.
A alternativa? A morte e a prisão com direito a tortura.
Igualdade para todos. Vamos dividir todas as nossas riquezas de forma igual.
Socialismo.
Frase cravada na parede da Casa do Terror.
As fotos na seqüência eram nitidamente de trabalho escravo adulto e infantil.
A alternativa? A morte e a prisão com direito a tortura.
Igualdade para todos. Vamos dividir todas as nossas riquezas de forma igual.
Socialismo.
Hoje (dias atuais), no Rio Danúbio,
fiquei sabendo que existem 8 pontes que ligam Buda a Peste. Minha avó sempre me
contou que eram 7.
Todas foram destruídas pelos nazistas na 2a Guerra Mundial. Meu bisavô morreu servindo a Hungria na primeira ponte que havia sido construída em homenagem ao príncipe austro-húngaro Josef Ferdinando. ( E um dos grandes causadores da 1a Guerra Mundial).
Após o nazismo, os húngaros reconstruiram todas as pontes. E acho que acrescentaram essa 8a aí que não existia.
Site do Museu: http://www.terrorhaza.hu/en/index_2.html
Todas foram destruídas pelos nazistas na 2a Guerra Mundial. Meu bisavô morreu servindo a Hungria na primeira ponte que havia sido construída em homenagem ao príncipe austro-húngaro Josef Ferdinando. ( E um dos grandes causadores da 1a Guerra Mundial).
Após o nazismo, os húngaros reconstruiram todas as pontes. E acho que acrescentaram essa 8a aí que não existia.
Site do Museu: http://www.terrorhaza.hu/en/index_2.html
Tentei ao final do dia me distrair um pouco na Vorösmarty Tér.
Pedi um prato que
vinha c Lecso. Perguntei o que era. Me falaram que é ratatouille húngaro que eu
também não sei o que é. Chegou na mesa: carne com molho de cachorro quente e pão. Se
eu soubesse pediria com salsicha rs...
Próxima Parada: Croácia!